Fecundação
 
 
 
 

Aroeira
(A Rodolfo Stoppa Filho, meu pai, cujos olhos eu nem cheguei a ver...)

Velho tronco de aroeira...
Ainda hoje, corridos os anos,
Roladas as águas,
Aí estás, fincado, firme,
Zombando do tempo!

O filho do imigrante
Tinha os olhos verdes cheios de esperança
Quando, confiante no futuro,
Cravou-te firmemente no solo
Em que ele engendrava um novo mundo!

E lá ficaste.... inerme testemunha da vida!
Mudo, quanta coisa presenciaste...
Certamente, viste as lágrimas dos que partiam
Deixando, na batida da porteira em teu tronco,
A sua despedida  daquele mundo simples!

As noites...
A lua cheia revelava a tua forma solitária
Onde as corujas vinham pousar,
Espreitando a escuridão!
Setembro... tinhas ainda em teu dorso a poeira
Que era lavada pelas primeiras chuvas.

As mãos que te firmaram no solo
Há muito tempo já não têm mais vida;
Levadas foram pelas asas da Eternidade!
E aqueles sonhos todos, já nada são!
Mas tu permaneces...
E as marcas do tempo que em ti não doem,
Em mim vincam sofrimentos...

Hoje, com as lágrimas rolando,
Eu venho te buscar, aroeira!
Para sempre estarás,
Cravada em minha alma!
 


O Olhar dos Vivos
(Há uma dor de ocos pelo ar sem gente... - Garcia Lorca)

Entardece... nas ruas calmas cessa a vida,
E sob o manso choro da garoa da tarde,
Com os olhos feridos pelo brilho das pedras,
 Caminho...

Em sua cinzenta habitualidade,

Os homens caminham pela mesma calçada de ontem;
Esperam viver amanhã o nada de hoje.

Lá dentro daquelas casas antigas,
Almas vazias, flores mortas e pardas relíquias
Relembram priscas glórias.

Nas janelas, moças tristes e sonhadoras,
Tricotando o seu tédio,
Olham para um futuro que não virá.

No suave entardecer,
As pálidas luzes que escapam das janelas
Brilham por entre os galhos escuros das árvores,
E enchem de angústia a minha alma.

A extensão infinita da rua (da Estação) une os altos da cidade
E promete saídas que muita gente não ousa.

No silêncio do largo da velha matriz
Ecoam, alegres, os gritos da infância distante.

As tristes águas dos janeiros que demarcam a vida,
E as formigas cortadeiras que carregam tenros brotos
Evocam a finitude.

A matéria efêmera banhada em lágrimas
Passa ladeira acima ao lado do Rosário
E leva consigo, por instantes, o olhar dos vivos!
E no entanto,
 Caminho..


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